Black Friday. Recursos Humanos a preço de saldo?

Estamos perante um tema quente, mas temos de o abordar sem termos medo de nos queimar. Em Portugal, confrontamo-nos com dados preocupantes sobre a nossa trajectória de crescimento. Sabemos que não estamos a ser capazes de dar oportunidades às actuais gerações e às vindouras.

Retemos talento? Conseguimos vincular os profissionais ao propósito das organizações? Temos de investir para que os profissionais tenham as suas necessidades básicas totalmente satisfeitas, capazes de trabalhar motivados e focados no ciclo virtuoso para o qual o seu trabalho contribui e do qual podem extrair benefícios que lhes permitam viver a sua vida com qualidade.

Hoje em dia são muitas as dúvidas: conseguimos atrair o talento de que precisamos? Será que Portugal está a preço de saldo? Será que vivemos em Black Friday?

Sobre acções promocionais, sabemos que são excelentes para escoar stock, como investimento de comunicação e marketing, como estratégia de aumento de quota de mercado… mas, sabemos que a promoção permanente traz um impacto considerável para o negócio. Como é percepcionado o valor do serviço que presta/produto que vende pelo seu cliente? Nestas permissas, quando vai ser possível conseguir subir o valor?

O consumidor adora comprar mais barato e, em Portugal, com o nível económico em decréscimo, quase que só pode comprar em promoção. Mas é este país que queremos? Um consumidor sem poder de escolha, obcecado com o critério preço, que só compra barato, e um vendedor focado em reduzir custos para conseguir manter EBITDA e quota de mercado?

Como recrutadora de executivos assisto e acompanho brainstormings exigentes e desafiadores, onde também falamos da necessidade ou inevitabilidade das acções promocionais, e a sua consequência no crescimento e posicionamento da empresa, bem como no cash flow disponível para alavancar o negócio, aumentar salários e, consequentemente, o nível de vida dos colaboradores e do país.

Será que temos estado a fazer as melhores escolhas?

Da parte dos decisores tenho dúvidas que estejam totalmente despertos para a necessidade de aumentar salários e o vínculo dos colaboradores e, ainda, se estão conscientes do impacto da remuneração desde o recrutamento. Sabendo desta necessidade, como posicionam a proposta de valor para os colaboradores e, consequentemente, o preço do produto que vendem/serviço que prestam?

Aos profissionais questiono se estão conscientes do que significa “aquele pedido de descida de preço” para “satisfazer o cliente” e “incrementar vendas a curto prazo”. Estou quase certa de que a descida de preço implica deixarem de ganhar para as funções que desempenham. E resta questionarem-se: contratavam-se para fazer o que fazem?

Conseguimos, todos, concordar que empresas e pessoas se fundem, uma vez que as segundas são inevitavelmente as operadoras das primeiras. Então será possível cooperar para que se gere riqueza?

Em termos económicos, quando alguém ganha, não leva a que outro alguém perca! Pelo contrário, o crescimento é um catalisador de coisas boas. Façamos por crescer, conscientes do que representam as escolhas que fazemos.

Sobre esta analogia com a Black Friday: aproveitemos a globalização para tudo! Estimulemos o consumo, mas aprendamos com outros mercados o que podemos fazer para crescer, inovar e alavancar Portugal.

Esta reflexão não se extingue. E não nos levando a uma conclusão, pode e deve levar-nos à acção. Anotem: ambientes profissionais de baixos salários geram profissionais desmotivados. Profissionais desmotivados tornam-se tóxicos.

Propositadamente, foram deixadas de fora questões fiscais.