Mulheres são 50% da força de trabalho, mas ainda recebem menos
Gap salarial situa-se nos 12 por cento. Disparidade é mais acentuada em cargos de gestão e direção, com os homens a ganhar mais 20 por cento
Em 2024 as mulheres representavam 50 por cento da população empregada em Portugal, consolidando uma tendência que se tem vindo a afirmar na última década. Apesar disso, o gap salarial entre homens e mulheres situa-se nos 12 por cento, valor que aumenta para 20 por cento quando analisados os cargos de gestão e direção. Estas são apenas algumas das conclusões da análise da Eurofirms – People First aos dados disponíveis (INE, Ministério do Trabalho) sobre a equidade laboral no mercado de trabalho português, tendo em conta a celebração do Dia Internacional da Mulher, a 8 de março.
Desigualdade persiste apesar de níveis de qualificação superiores
Em termos absolutos, mais de 2.5 milhões de mulheres estavam a trabalhar em 2024. A nível regional, analisando esta distribuição nos principais polos populacionais, é possível constatar ligeiras diferenças. Na região da Área Metropolitana de Lisboa, o número de mulheres empregadas ultrapassa os homens em 4 por cento. Já na região Norte, mais 50 mil empregos são ocupados por homens, uma presença superior em 6 por cento.
A análise revela também que as mulheres apresentam níveis de qualificação superiores aos homens, superando-os em 30 por cento no que diz respeito à obtenção de certificações de nível superior. Contudo, a discrepância no acesso a posições de liderança mantém-se: os cargos de gestão e direção em Portugal continuam a ser ocupados maioritariamente por homens, com uma diferença de 38 pontos percentuais. A análise da Eurofirms conclui que, apesar das qualificações, as mulheres enfrentam um caminho mais longo e exigente até atingirem o topo das organizações.
Distribuição setorial e impacto na vida familiar
Os dados revelam ainda uma segregação ocupacional evidente. As mulheres estão mais presentes em setores da Saúde e Apoio Social, Educação e Hotelaria e Restauração. Em contrapartida, os homens dominam setores como Construção, Indústria Transformadora e Reparação Automóvel.
Outro fator que contribui para as desigualdades de género no mercado de trabalho é a maior presença feminina em contratos a tempo parcial. Em 2024, 281.300 mulheres trabalhavam em regime de jornada reduzida, o número mais elevado da última década. A maternidade agrava esta tendência, com as mulheres a registarem uma taxa 5,5 por cento superior de contratos a tempo parcial em comparação com os homens, evidenciando o peso das responsabilidades familiares na carreira profissional feminina.
Eurofirms sugere caminhos para a igualdade
De acordo com João Lourenço, Business Leader em Portugal, “esta análise da Eurofirms reforça a necessidade de repensar a equidade laboral, já que, apesar de na última década as mulheres passarem a representar uma força significativa no mercado de trabalho, ainda há um caminho longo até atingirmos uma sociedade mais igualitária”. Ainda de acordo com João Lourenço, “é necessário repensar medidas estruturais que promovam maior equidade salarial, assim como um acesso mais equilibrado a cargos de liderança A implementação de políticas que incentivem a partilha de responsabilidades familiares e facilitem a conciliação entre a vida profissional e pessoal é também crucial para garantir um mercado de trabalho mais justo e inclusivo”.